A síndrome do porco
Tema já discutido – e publicado – mas sempre em alta, especialmente neste ano de gripe suína, eufemisticamente batizada de gripe A.
Dizem que, durante a era glacial, muitos animais morriam de frio. Os porcos-espinhos, numa tentativa de sobrevivência, juntavam-se uns aos outros para se manterem aquecidos. Mas, devido aos espinhos, começaram a se ferir. Aí, magoados, distanciaram-se, e muitos acabaram morrendo congelados. Então, tiveram de fazer uma escolha: ou aceitariam as farpas dos semelhantes ou desapareceriam da face da Terra. Sabiamente, optaram pela vida e aprenderam a conviver sem se machucar tanto.
Parece que, ao pé da letra, a história se inverteu. Para a gente se manter viva, é preciso não apenas guardar distância dos espirros e fungadas, mas também da massa em geral. Aliás, afirmam os técnicos, prevenção esta que deveria ser aplicada diante de qualquer outra ameaça de infecção por vírus.
* * *
Embora as autoridades garantam que a gripe A é tão ou menos letal do que a gripe comum, o povo já entendeu o recado dos meios de comunicação: a pandemia mata. Resultado: estamos todos em polvorosa monitorando nossos espirros e policiando os suspiros dos que nos cercam... Bom, menos o “Tomé” – nome emprestado da Bíblia a esta pessoa, homem ou mulher, de quem vou falar (a discrição faz parte).
“Tomé” é cético por natureza. Não crê nem descrê. Apenas duvida. Inclusive, vislumbramos um certo ar de desdém na segunda-feira, por ocasião das comemorações dos quarenta anos de viagem à Lua...
Para “Tomé”, somos ingênuos de carteirinha e geralmente repetimos os argumentos dos outros. Em nossa mais recente conversa, na terça, ele nos alertou:
-Vocês se lembram da saga do ovo? Antigamente, a gema esteve em alta, depois foi execrada por ser uma bomba de colesterol, a seguir, absolvida. Atualmente... não se sabe ao certo. E o chocolate? E o vinho? E o café? Aí tem... E na política, então? Dá para levar alguém a sério? (Referência a esta enxurrada de escândalos em nível estadual e federal).
“Tomé” acha que, atrás dos bastidores, a malandragem corre solta, e que somos manipulados que nem marionetes. Segundo ele, dançamos conforme a música, sem nos darmos conta de que o ritmo muda junto com os interesses.
-Tudo bem! Mas e a gripe suína? – insistimos, mantendo algum distanciamento.
Ele nos respondeu com outra pergunta:
-E a febre amarela? Os mosquitos sumiram do mercado?
-Como assim? – dissemos em uníssono.
-Desovar estoques de vacinas é coisa que nem ouso pensar...
Ele continuava a semear dúvidas em torno de questões “inquestionáveis”, quando, então, observamos um embrulho com indicativo de venda de farmácia, no fundo da gaveta de sua mesa.
-Máscaras?! Até tu, “Tomé”?
-Gente, tenho “a cabeça aberta, mas nem por isso deixo o cérebro cair”, ora bolas! – disse, lavando as mãos com gel.
terça-feira, 23 de março de 2010
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