Poeminha pornô
O que era pra ser apenas um sorriso virou discussão psicanalítica, com direito a citações de papas do assunto e tudo. Ninguém escapou, nem o Sigmund. E como poderia? Toda pessoa que se preza sabe que o Pai da Psicanálise era Freud mesmo.
A polêmica iniciou com o humor poético de Luiz Coronel, lido numa fila que aguardava a hora pra bater o ponto. Dizia assim: “Quando o sol abre o zíper, as nuvens levantam as saias”.
A primeira reação feminina – a fila era só de mulheres – foi obviamente a de sorrir. Mas, sabe como é, quem espera tem tempo de sobra, até pra discutir o sexo dos anjos.
-Que delicadeza de verso! – proclamou uma fofinha com expressão de enlevo.
-Hum! Metáfora sacana... – insinuou a que estava ao lado, com ar ausente, quem sabe fantasiando o fim de semana próximo.
A outra retrucou que sacanagem estava na cabeça dela. Vê se podia! Desvirtuar um verso espirituoso e ...
-E com segundas intenções – completou a “invocada”.
Aí ninguém mais segurou a verborréia... ou verborragia (só pra evitar a rima provocada pela salmonela). Até as que estavam vagando num universo paralelo, desembarcaram e entraram na onda. Então alguém lá detrás mostrou que o buraco era mais embaixo, que o humor da literatura é narcisista, que o ego é tipo assim... meio caolho, só enxerga o que quer, coisa e tal, que o superego transforma a dor em prazer através da graça – ela sabia pois havia passado os olhos em Freud, ainda no tempo da brilhantina.
E aquela fileira amorfa ficou pulsante. Heidegger foi tirado do baú com seu “nada”, e nada acrescentou senão uma batalha semântica. Kant veio em socorro, e morreu na praia. Jesus, Martinho Lutero e Martin Luther King, por algum motivo oculto, foram conduzidos à discussão. Então a fofinha, profundamente irritada, explodiu:
-Gente, o verso só quer dizer que, quando o sol raia, as nuvens caem fora.
-E por que levantam a saia se não estão a fim?
A voz vinha do outro lado. Os olhares convergiram todos àquela direção. A desafiante ponderou:
-O Luiz (o poeta) está afirmando o óbvio. Sexo é vital.
-Esse Coronel não é meio machista? Então o sol abre a braguilha e as nuvens se derretem?! – agora quem falava era uma simpatizante da causa feminina.
A fofinha – aquela do começo da história – resolveu dar um basta com um clássico de Quintana, devidamente adaptado à situação:
-Todas estas que aqui estão/ atravancando o meu caminho/ elas passarão.../ Eu passarinha!
Quase foi caçada.
segunda-feira, 22 de março de 2010
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